18.05
Kika Mattos: de Sergipe para Sampa
A arquitetura parecia predestinada. A avó teve uma das primeiras lojas de objetos de decoração de Aracaju, a mãe seguiu no ramo da moda, com as grifes Giovanna Baby e Tyrol, e o pai na engenharia civil, com uma construtora.
A experiência fora do país, em Madri, foi um divisor de águas na vida pessoal e na profissão.
“Foi um ano muito especial porque eu fiz todas as matérias relacionadas à arte. Fiz História da Arte e tinha aula em museus. Brinco que foi um ano de vida de artista, que eu viajei muito, me encontrei com a arte, muito enriquecedor para nossa profissão. Digo que as minhas inspirações vêm disso: da arte, da moda, da música, vêm do museu”.
Foi quando a vida cosmopolita paulistana abriu as portas dos grandes nomes para Kika Mattos dar os primeiros passos na carreira, mas já em grande estilo, passando pelo escritório do renomado arquiteto brasileiro David Bastos. Uma vivência desafiadora que resultou no nascimento da Triart, em 2015.
“Vim aqui pra São Paulo e conheci meus dois sócios no escritório do David: a Marcela trabalhava diretamente comigo. Era muito parceira e brincávamos que íamos ser sócias. Então, fizemos, juntas, uma vitrine para o David e ele amou. Foi quando o Sérgio Zobaran, que é o curador da Mostra Black da Modernos Eternos, virou pra David e perguntou se ele conhecia algum arquiteto jovem pra colocar na Mostra e, aí, David falou: conheço Kika e Marcela. Foi muito especial porque a gente fez um Office. Logo depois, o Deco se formou e entrou (sócio na Triart) porque a gente queria muito agregar essa parte de arquitetura com decoração”.
Agora, Kika Mattos celebra suas escolhas estampando o apartamento de 52m2, no bairro de Itaim Bibi em São Paulo, na capa da Revista Casa e Jardim.
Fotos: Victor Affaro
“O dinheiro que eu tinha juntado, eu investi na Triart porque eu acredito no escritório. Então, o apartamento sempre ficou mais distante. Só no ano passado, finalmente, eu consegui no lugar que eu queria, do jeito que eu queria. Arrumei da forma que eu queria, aos pouquinhos e hoje me sinto muito realizada. Sinto uma paz enorme porque eu tenho certeza que depositei tanta luz, tanta energia, carinho, amor, tanta gratidão”.
Com a Triart consolidada e o sonho do primeiro apartamento realizado, a arquiteta aproveita a quarentena para projetar, levando a produção da arquitetura para todo o Brasil.
“Meu Love Prodú surgiu de forma despretensiosa, mas que deu super certo. É um workshop para profissionais falando de produção, falando da importância da finalização nos projetos. Já fiz quase no Brasil inteiro e dar palestras é algo em que me encontro muito. Estou lançando agora o curso online. Tem vários módulos: tem módulo teórico, módulo prático, módulo garimpo, módulo mostras, módulo viagens. Além do site Love Prodú que estou criando os cursos, estou associada a uma plataforma junto com o Sig Bergamin, Guilherme Torres. São pessoas que sempre foram minhas referências e você estar ao lado das suas referências é surreal. Custa acreditar, às vezes, mas acho que a gente tem que todo dia buscar algo”.
A vida e a carreira de Kika Mattos seguem em São Paulo, mas o coração, as lembranças e as referências nunca saíram de Sergipe.
“Eu tenho muito orgulho das minhas raízes e sempre fiz questão de falar que sou de Aracaju, uma das cidades mais lindas e muito rica culturalmente. Acho que as pessoas têm extremo bom gosto E uma visão à frente. E uma dessas, com certeza, é Maria Celi”.
“A gente é o espelho da nossa infância e sou muito grata por ter tido uma infância muito rica de amor, de afeto, de cultura. Tudo isso me proporcionou muita coisa boa para minha profissão. Sempre busco, nos meus projetos, colocar coisas que podem estar ligadas, sim, ao luxo, ao sofisticado. Você pode colocar um vaso de barro ou algo de piaçava. Tudo é a forma que você usa”.
“Eu tive a honra de ter duas famílias, tanto parte de pai, como de mãe que conquistaram tudo com trabalho, pessoas honestas, do bem e, principalmente, humildes, que carrego como exemplos para minha vida. Eles são a minha base, meu aconchego e meu conforto”.